sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Futuro do Trabalho é Hoje

Não há profissão ruim, desde que o profissional se qualifique acima da média. A afirmação categórica é de um dos maiores entendedores brasileiros quando o assunto é o mercado de trabalho: o sociólogo José Pastore, autor de nada menos que 35 livros e mais de 200 artigos publicados sobre o tema.

Autoridade não falta ao catedrático. Pastore é Doutor Honoris Causa em Ciência e Ph. D. em sociologia pela University of Wisconsin (EUA). É professor titular da Faculdade de Economia e Administração e da Fundação Instituto de Administração, ambas da Universidade de São Paulo. Ele participou do ciclo de palestras Trabalho em Debate, promovido na Câmara dos Deputados pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público.

Na apresentação, Pastore traçou um panorama dedicado especialmente aos jovens que ingressarão em breve no mercado de trabalho. “Toda época de vestibular a história se repete. Minha caixa de e-mails fica cheia de mensagens enviadas por jovens ansiosos em uma época bastante delicada de suas vidas. A dúvida, quase sempre, é uma só: que profissão escolher? Minha resposta também não muda muito: qualquer curso, desde que você seja um bom aluno, vai lhe tornar um bom profissional. Portanto, não existe 'a' profissão, mas 'o' profissional”.

José Pastore conversou com nossa equipe e elogiou a experiência do Parlamento Jovem Brasileiro, iniciativa da Câmara dos Deputados que seleciona jovens para uma jornada parlamentar simulada, que inclui apresentação de projetos, debates e votação nas comissões e plenário. “Isso é muito bom para a democracia. O jovem que se qualifica assim, adquire muito mais noção de cidadania”, comentou.

O Blog da Visitação preparou para você um resumo das ideias abordadas pelo professor Pastore. Pode ser a oportunidade para quem ainda não sabe que profissão seguir. Ou uma boa reciclagem sobre o estágio atual do mercado. Acompanhe os principais pontos:

Mão de Obra Qualificada
Hoje falta trabalhador qualificado em vários setores, principalmente nas engenharias. Além dos engenheiros, faltam técnicos, tecnólogos, operadores de máquinas. Não é à toa que o salário nessa área aumentou 20% no último ano. Com o PIB crescendo 5% , o gargalo pode ser dramático.

Outras Carências
A saúde também está sofrendo com a falta de médicos, anestesistas, enfermeiros. Na área da tecnologia da informação também há um déficit de 100 mil profissionais. E até o ano que vem esse número pode chegar a 200 mil. Por incrível que pareça, também há carência entre as ciências sociais. Isso porque é preciso ter leitura e escrita, hoje um diferencial.

Mercado de base
Não é só nas profissões de nível superior que há déficit de bons funcionários. A tônica também é da indústria de base, em vários setores. Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), já há uma carência drástica na agroindústria.

Profissões do futuro
Se o Brasil crescer 4,5% ao ano, como está previsto nas análises mais conservadoras, teremos um conjunto de pelo menos dez áreas muito demandadas num futuro muito breve: administração, engenharia, meio-ambiente, design, tecnologia da informação, área jurídica, saúde, educação, lazer, hospitalidade e turismo. Para se ter uma ideia, nesse último setor, temos apenas 2% da população envolvida, enquanto na França o patamar chega a 20%.

Desemprego
Se há demanda, por que há desemprego? Porque as empresas passam por metamorfose tecnológica. É preciso acompanhar isso. Não basta ser adestrado, é preciso ser educado, e muito bem educado. Não basta saber fazer, mas como fazer, e até como não fazer.

Analfatabetismo
Em 1850, 90% da população brasileira era analfabeta. Hoje, já avançamos nesse percentual, tanto que todas as crianças são matriculadas na escola. O problema é a qualidade e o tempo de ensino. Quem está no mercado de trabalho hoje tem, na média, sete anos de escolaridade. No Japão, Coreia e Estados Unidos, a média é de dez anos, e com qualidade. O que ainda não é nosso caso.

Criatividade
O depoimento de empresários estrangeiros é que nossa força de trabalho é criativa. Verdade. Mas esses profissionais estão concentrados em pouquíssimas empresas. E o restante do efetivo? Outros setores estão se sofisticando agora. A melhor profissão não existe. Todas são boas, desde que você fique acima da média. É preciso estudar não para passar no exame, mas para aprender a pensar.

O Patrão é o Consumidor
As empresas já não contratam diplomas. Elas contratam respostas. É o fim do nepotismo, do clientelismo. Hoje o patrão não é o empresário, é o consumidor. É ele quem diz se aquele funcionário está à altura do produto ou serviço vendido pela empresa. Bom senso, lógica de raciocínio, capacidade de trabalhar em grupo, domínio de idiomas e habilidade de comunicação são as ferramentas do sucesso em qualquer área.

O Vírus da Curiosidade
É preciso cultivar o vírus da curiosidade. Se você não nasceu com ele, inocule-se dele. Se o professor manda ler um livro, leia dois. Se você estuda direito, estude economia. Se estuda economia, leia também sobre administração. O Brasil é um país privilegiado é é preciso aproveitar essa condição. Em quatro ou cinco anos, podemos nos tornar uma usina de empregos.

Função da Educação
A educação não serve só para empregar. Mais importante é formar cidadãos. Só ela é capaz de fortalecer as instituições, e sem instituições fortes, não há crescimento sustentável e qualificado.

Direitos e Deveres
Na Constituição Brasileira, está escrito 76 vezes a palavra direito. A palavra dever, somente quatro. Produtividade, aparece duas vezes, e eficiência, uma só. É impossível desenvolver um país com 76 direitos e apenas quatro deveres, e ter duas produtividades com uma só eficiência. A gente sabe transmitir direitos, mas não cobrar deveres. A pedagogia da transmissão do direito é a tradicional: aulas, palestras, preleções. Já o dever, é mais difícil de passar. Só o exemplo ensina o dever.

Compromisso Político
Em 2002, fiz uma experiência durante as eleições: recebi 60 santinhos e propagandas de candidatos. Em vez de jogar no lixo, como sempre fazia, resolvi retribuir cada um deles com uma carta endereçada aos candidatos. Eu dizia assim: 'prezado candidato, sinto-me muito honrado com sua escolha de me considerar um potencial eleitor. Mas para votar no senhor, gostaria que me respondesse o que vai fazer pela educação, pelo trabalho e contra o desemprego.' Só recebi duas respostas. E não votei em nenhum dos dois porque liguei depois e descobri que quem respondeu foram os assessores. O político precisa se engajar diretamente na causa da educação e do trabalho.

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