terça-feira, 27 de julho de 2010

O dia em que o Congresso virou Torre de Babel


Europeus, asiáticos, africanos, americanos de todas as latitudes: os idiomas são os mais variados, mas ao contrário da Torre de Babel bíblica, aqui a harmonia impera. O Congresso Nacional está recebendo visitantes de praticamente o mundo todo esta semana. Em três dias, passarão pelos salões do Palácio cerca de 300 delegados de 187 países que estão em Brasília para participar da 34ª Sessão do Comitê de Patrimônio Mundial da Unesco, que acontece entre 25 de julho e 3 de agosto.

Delegados de todos os continentes estão na capital do país para deliberar sobre a declaração, pelo órgão da ONU, de novos sítios culturais, históricos e naturais ao redor do mundo. Como tratam especificamente de patrimônio, os especialistas, claro, não poderiam deixar de conhecer o edifício que é um dos marcos arquitetônicos de Brasília, tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco desde 1987.

As visitas guiadas por monitores duram cerca de uma hora. Acompanhando de perto, é possível identificar sentimento comum entre tantos idiomas, culturas e visões políticas diferentes: o deslumbramento por uma “arquitetura tão particular quanto surpreendente”, nas palavras do russo Andrei Petrov, que quis conferir de perto os painéis de Athos Bulcão dispostos no Salão Verde. “É uma construção muito grandiosa e bem desenvolvida. Este prédio é mesmo muito bonito de se ver”, aprovou.

Do Salão Verde, os delegados da Unesco foram conhecer os dois Plenários. Primeiro o da Câmara. E foi a pluralidade de ideologias e costumes, abrigada sob a concha côncava e democraticamente aberta para os céus, que encantou o olhar do representante da Arábia Saudita, Ali Mghenem. “Este é um grande país, com uma miscigenação que o torna ainda mais rico. Esta casa parece refletir este sentimento de mistura, de democracia. Eu acho que todos vocês, brasileiros, deveriam conhecer este lugar”, declarou o árabe, que é antropólogo de formação.

A caminho do Plenário do Senado Federal, conhecemos a japonesa Seiko Mori, que repetia a palavra 'interesting' - interessante em português – a cada novo ambiente que percorria. Para ela, o mais “interessante” na experiência de conhecer Brasília está exatamente na comparação com seu país. O Japão é uma nação que alia, em sua arquitetura, o tradicional e milenar ao moderno e tecnológico, como se vê na capital Tóquio. “Aqui em Brasília não tem nada antigo, tudo é moderno. Mesmo vindo de um país que é considerado referência em modernidade, me surpreendi com o futurismo daqui”, analisou.

E não é que o Congresso Nacional também surpreendeu arquitetas vindas de outro país moderno e com construções de linhas arrojadas? 'High-Tech' foi o termo utilizado pelas coreanas Juran Park e Hee Song. A primeira nunca havia visitado uma casa legislativa antes. Já a segunda, teve a oportunidade de conhecer o Parlamento Britânico. Hee Song não teve dúvida: “gosto mais desse aqui. É vibrante, colorido, sem perder a classe. Adorei essa ideia de ter um salão verde, outro azul, outro branco, com os pisos marcando a diferença de ambientes”, definiu ela, enquanto preenchia o cartão postal oferecido pela Câmara a cada visitante e que posteriormente é enviado ao destinatário sem despesas postais. “Esse aqui vai pra minha tia. Ela adora arquitetura”, comemorava Song.

Em tempo: além de Brasília, o Brasil possui hoje outros 16 sítios considerados Patrimônio Cultural, Histórico e Natural pela Unesco. Alguns, como Olinda-PE, Ouro Preto-MG e a própria Capital Federal, já tiveram o título ameaçado por causa da especulação imobiliária, ocupação desordenada do solo e outras questões. Mas segundo os especialistas que estão em Brasília, todos os sítios estão resolvendo seus problemas e cumprindo as exigências do colegiado. Assim, continuam preservados aos olhos da Unesco e do mundo.


Fotos: Brizza Cavalcante

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